Projeto de Lei nº 9411/2022
DENOMINA DE PRAÇA DR. ASTROGILDO DE AZEVEDO, O LARGO EXISTENTE ENTRE A RUA PROFESSOR BRAGA ATÉ AS PROXIMIDADES DA ESQUINA DA RUA MARECHAL FLORIANO PEIXOTO E ENTRE AS RUAS PINHEIRO MACHADO E ASTROGILDO DE AZEVEDO.
Art. 1º Fica denominada de Praça Dr. Astrogildo de Azevedo, o Largo existente entre a Rua Professor Braga até as proximidades da Esquina da Rua Marechal Floriano Peixoto e entre as ruas Pinheiro Machado e Astrogildo de Azevedo.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.
Art. 3º Fica revogado o Decreto criado pelo Ato nº 129 de 25 de junho de 1929, da Intendência Municipal de Santa Maria.
JUSTIFICATIVA
Senhoras e Senhores, os Vereadores que subscrevem encaminham este projeto como forma de homenagear o Dr. Astrogildo de Azevedo, bem como atividade de saúde e os profissionais que a ela pertencem.
Segundo a Academia de Medicina do Rio Grande do Sul:
"O médico, o cidadão e o homem
(1867-1946)
Corria o ano 1884 quando o jovem Astrogildo Cesar de Azevedo ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Tinha apenas 17 anos de idade. Diplomou-se em 24 de dezembro de 1889, dez dias após ter defendido a tese intitulada “Estudo Clínico da Afasia”.
“Com essa única credencial, pobre, desamparado, mas ardoroso e confiante” retornou ao Rio Grande do Sul, desembarcando na pequena cidade de Santa Maria, em 25 de janeiro de 1890.
Aos 23 anos de idade, iniciou a carreira de “médico do interior’’. Escolhera uma cidade, onde a clínica dividia-se em dois “redutos inexpugnáveis”: num deles, pontificava o Dr. Pantaleão José Pinto, dominando a clínica na cidade e regiões serrana e fronteiriça; no outro, o Dr. Henrique Graves, médico alemão, “a quem tributavam confiança quase fanática”.
Mais tarde, Astrogildo diria: “Entre essas duas posições consolidadas, devia acampar edemia só comparável à gripe espanhola, que ocorreria em 1918.
É Astrogildo quem conta: “Esse fato inesperado abriu caminho às minhas primeiras incursões médicas”. Engajou-se na luta do atendimento à multidão de doentes. Foi assim que a virose o ajudou a estabelecer uma clínica que se solidificou com o tempo, praticando a medicina por mais de 50 anos.
Em 1898, conseguiu objetivar um sonho antigo: a fundação de um hospital. Para isso, junto com alguns amigos, fundou e foi o primeiro presidente da “Sociedade de Caridade Santamariense”, posteriormente denominada “Associação Protetora do Hospital de Caridade”. A lei orgânica da associação foi aprovada em 23 de junho de 1901. A pedra fundamental do futuro hospital foi colocada em 12 de abril de 1899 e o “Hospital de Caridade” foi inaugurado oficialmente em 7 de dezembro de 1903.
Em 1908, o Dr. Astrogildo visitou centros médicos do Rio de Janeiro, Montevideo, Buenos Aires e de algumas capitais européias.
Em 14 de maio de 1911, foi feita a primeira cesariana em Santa Maria. Realizou-a o Dr. Astrogildo e no “seu hospital”.
Em 1912, grassou a peste na cidade. Ao Dr. Astrogildo coube precisar o diagnóstico de peste pneumônica. Por isso, nesse ano, em 3 de agosto, ele foi designado superintendente do Serviço de Profilaxia da Peste. Com medidas profiláticas convenientes, ele conseguiu debelar o surto epidêmico.
Por muitos anos, o Dr. Astrogildo executou as tarefas de Médico Legista e de Delegado de Higiene.
Mesmo com a chegada da velhice, o Dr. Astrogildo jamais abandonou completamente a clínica e, ademais, fazia constantes visitas ao hospital, “sua menina dos olhos”, hoje denominado “Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo”.
Médico, exerceu a profissão com paixão, responsabilidade e dedicação, tal como definiu em discurso, no seu jubileu profissional: “a medicina empolga com a força de uma paixão irresistível (…) porque são melindrosas as responsabilidades de quem maneja constantemente a saúde e a doença de seus semelhantes, que a eles dedica todos os seus pensamentos e atividades”.
O cidadão
Quase ao final do ano em que chegara a Santa Maria, em 6 de novembro de 1899, o Dr. Astrogildo foi eleito Conselheiro Municipal. Como tal, participou da comissão que apresentou o projeto da Lei Orgânica do Município. Em 1909, foi nomeado Vice-Intendente Municipal.
Em 3 de agosto de 1916, foi eleito Intendente Municipal. Nesse cargo, teve como objetivo principal o saneamento básico da cidade. Sua preocupação com esse problema manifestou-se antes de assumir o cargo, em 10 de setembro.
Recém eleito, em carta ao engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, convidou-o a conceber um projeto de saneamento para a cidade. Lamentava, nessa carta, que não poderia contratá-lo nesse ano, pois receberia o município em péssimas condições financeiras e deveria dedicar-se inteiramente na tentativa de equilibrar o orçamento municipal. Não escondeu, também, sua preocupação pelas dificuldades do projeto, em razão da topografia do município.
Em 9 de julho de 1918, Saturnino de Brito chega a Santa Maria e, três dias após, assina o contrato para projetar a distribuição de água potável e de efluentes do esgoto. O projeto, pronto em 1919, foi impresso com o título “Saneamento de Santa Maria”. Foi o primeiro projeto executado no Rio Grande do Sul e provocou a preocupação de outros intendentes municipais e do governo do Estado, em projetarem o saneamento de outras cidades sulinas. Esse projeto, posteriormente, em 1930, serviu de base para a execução dos trabalhos de saneamento da cidade.
Em 17 de julho de 1918, em conseqüência de uma “crise política, o Dr. Astrogildo renunciou ao cargo de Intendente e, a seguir, à chefia do partido situacionista. Com isso encerrou em definitivo sua vida pública. Um ano após, permitiu-se um desabafo: “A vida pública no Brasil é a rua da amargura, onde os homens dignos vão deixando farrapos de sua carne e manchas do seu sangue, perseguidos pela grita perversa dos representantes de si mesmos, falhos de dignidade que os oriente, em responsabilidade que os limite e em moralidade que os contenha”.
O homem
Astrogildo Cesar de Azevedo nasceu em Porto Alegre, em 30 de janeiro de 1867. Seus pais foram Felicissimo Manoel de Azevedo e Maria Leocadia de Azevedo.
Concluiu os “preparatórios” no Instituto Brasileiro, de Apolinário Porto Alegre.
Em 1894, casou-se com Dª Aura Pinto de Azevedo, com a qual teve quatro filhos.
Ruralista, foi colaborador de “A Estância”, órgão da União dos Criadores do Rio Grande do Sul. Foi fundador e presidente (l927-1936) da Sociedade Agropastoril de Santa Maria.
Atos e fatos falam mais de um homem que uma multidão de palavras:
Ato. Ao historiar a fundação do Hospital de Caridade, ao qual, hoje, tem aposto o seu nome, disse: “e foi o amor que Congregou os promotores dessa obra”.
Fatos. Em 1930, junto a outros ex-alunos do Instituto Brasileiro, foi mandado confeccionar o busto do antigo professor, Apolinário Porto Alegre. O busto permanece na praça Argentina, em Porto Alegre.
Em 1939, reverenciou seus antigos mestres. Ao agradecer as homenagens por seu jubileu profissional, disse: “há cinqüenta anos de distância daqueles dias inesquecíveis, cometeria lamentável ingratidão se não relembrasse os meus ilustres professores, cujas sábias lições me ajudaram mais tarde”. Cita seus nomes e as respectivas cadeiras que lecionavam. Ao final, enumera os nomes de Rocha Faria em Higiene, Souza Lima em Medicina Legal, e continua: “esses dois excelentes mestres em higiene e medicina legal, disciplinas que sempre mereceram minha especial simpatia, foram os autores dos sucessos felizes, por ventura, por mim obtidos (…) porque ligados aos altos interesses sociais como servidores da saúde pública e da justiça…” Isto diz tudo do homem que chamou-se Astrogildo Cesar de Azevedo.
O Dr. Astrogildo Cesar de Azevedo, paradigma de médico, cidadão e ser humano, viveu serenamente seus 79 anos de vida, em meio ao respeito e simpatia de seus concidadãos e morreu em 22 de maio de 1946, serenamente… como serenamente viveu. "