Em cumprimento ao que estabelece a lei municipal 1250/66, a Câmara de Vereadores fez a entrega, em sessão solene, na noite desta terça-feira (04), dos Títulos de Benemerência concedidos anualmente pelo legislativo santa-mariense a pessoas que se destacam em suas atividades contribuindo com o desenvolvimento do município. Dirigida pelo presidente Paulo Airton Denardin (PP), a sessão durou pouco menos de duas horas, diante de um plenário lotado de familiares, amigos e admiradores dos homenageados.

O primeiro orador da sessão foi o independente Werner Rempel, que homenageou o ex-vereador, ex-deputado federal e ex-vice-governador do Rio Grande do Sul, o quaraiense João Gilberto Lucas Coelho, agraciado com o título de Cidadão Santa-Mariense. Werner lembrou a situação em que conheceu João Gilberto, no pátio da casa de um companheiro peemedebista (à época ambos pertenciam ao PMDB), na Vila Rossi, em 1980, em um tipo de reunião comum na militância do homenageado, nas quais informava a base partidária sobre as conjunturas políticas na capital do país.

Werner destacou a intensa participação de João Gilberto na vida política de Santa Maria, desde o movimento estudantil secundarista, quando foi presidente da USE, e vereador do extinto MDB, no início da década de 1970; na Câmara Federal, por três legislaturas; e na administração do Estado, quando foi eleito vice-governador, na administração de Alceu Collares, nesta época já militando no PSDB.

Após destacar ainda a participação de João Gilberto na assessoria técnica da Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte e ter lecionado como professor visitante na Universidade de Brasília, antes de encerrar o discurso, Werner admitiu um “erro histórico” cometido pelo partido de ambos, o PMDB, em 1988: não o escolheu para concorrer ao cargo de prefeito na sucessão de José Haydar Farret.

Em agradecimento à homenagem, João Gilberto ofereceu a “honraria do título para milhares de pessoas, em vários casos in memoriam”, entre elas, professores, colegas de estudo e trabalho, amigos, familiares e companheiro de militância. Sobre os efeitos dos seus 50 anos de militância nas relações pessoais e familiares, disse que acabou “causando ausências, dissabores e pesados ônus a quem tinha laços de genética, amizade ou afeto”. Falou sobre ética e honestidade, política e riqueza, democracia e pontos de equilíbrio, utopia legislativa, representação popular e sobre o espetáculo e a realidade, dizendo sobre esta última que “vivemos numa sociedade magnetizada pelo espetáculo instantâneo, em detrimento de um processo constitutivo de uma realidade”.

Ao finalizar, agradeceu por Santa Maria tê-lo tornado “um homem de convicções e ideais, solado da resistência, operário da democracia”, por ter lhe “mostrado o mundo e gerado a vontade de transformá-lo”. E concluiu: “tudo farei para honrar esta cidade até o último dos meus dias”.

O título de Cidadã Benemérita foi entregue à professora Ruth Sopher Péreyron, diretora do Theatro Treze de Maio, que foi saudada pela vereadora Maria de Lourdes Castro (PMDB). A vereadora lembrou a atuação da homenageada na defesa da cultura santa-mariense desde os bancos universitários e junto à Associação dos Professores da UFSM e sua participação na fundação, em 1995, da Associação dos Amigos do Teatro Treze de Maio, “com o compromisso de recuperar e devolver à comunidade santa-mariense o nosso teatro”. Após ter sido vice-presidente daquela entidade e com sua aposentadoria junto à universidade, em 1997, Ruth Pereyron assumiu a diretoria do Teatro Treze de Maio, cargo que exerce até hoje, com a mesma dedicação e disposição de sua mãe, Eva Sopher, junto ao Theatro São Pedro, na capital do Estado.

“Ao comemorarmos, no dia 26 deste mês de maio, os 13 anos de reabertura do Theatro Treze de Maio, fica muito claro a importância do trabalho e dedicação de Ruth Péreyron pela cultura de nossa cidade, por isso os vereadores desta Casa foram unânimes em conceder-lhe o título de Cidadã Benemérita”, disse a vereadora Maria de Lourdes.

Ruth Péreyron agradeceu a homenagem dizendo-se “lisonjeada” com a distinção e “muito feliz em estar presente e fazer parte da cena cultural de Santa Maria, realizando meu trabalho em conjunto com a cidade em prol da nossa cultura”. Segundo ela, “um teatro não vive apenas de grandes espetáculos, mas também se alimenta do amor que a plateia tem por suas cadeiras, sua cortina, seu placo e sua magia”.

A fundadora do primeiro Clube de Mães de Santa Maria (Só o Amor Constrói, da Vila Kennedy, em 1973) e do Conselho Municipal do Clube de Mães, homenageada com o título de Honra ao Mérito, Eny Trindade Soares, foi saudada pelo petista Luiz Carlos Fort. Mãe do também petista Jorge Trindade, ao lado de outros 13 irmãos, Eny Trindade além de suas atividades junto aos clubes de mães da cidade tem trabalhos comunitários de formação de mão de obra e colaboração com instituições de filantropia como o Lar Oscar José Pithan e Lar das Vovozinhas, obra que lhe rendeu o título de Mãe do Ano de Santa Maria em 1978 e o Troféu Conquista em 2003. Atualmente, com dificuldades de locomoção devido a um problema em um dos joelhos, Eny dá continuidade ao trabalho em sua própria casa, onde ministra oficinas de trabalhos manuais e artesanato.

Luiz Carlos Fort concluiu dizendo que a “homenagem à Dona Eny é também o reconhecimento a milhares de outras mulheres guerreiras e sofridas que dedicaram e dedicam suas vidas a servir as pessoas necessitadas”.

A homenageada iniciou reverenciando a Deus “por ter me dado saúde para poder trabalhar pelo próximo”, e encerrou o agradecimento recitando um poema de sua autoria em que diz “nasci por amor, vivi por amor e trabalho por amor”.

Ony Lacerda, Vereador Emérito, foi saudado pelo representante do Democratas na Casa, também veterinário e professor na UFSM, Manoel Badke. Além de professor universitário, vereador e secretário de município em Santa Maria, Ony Lacerda foi diretor do campus avançado da Universidade Federal de Boa Vista, em Roraima, e Adido Cultural no estado da Baviera, na Alemanha, junto ao Instituto de Criação de Animais. Presidiu a Comissão Permanente de Organização e Preparação das Exposições-Feiras Agropecuárias de Santa Maria e recebeu os diplomas de Colaborador Emérito do Exército, do Mérito Niederauer, Medalha do Pacificador e o título de Personalidade Política Ascon/Sinduscon 1966.

No encerramento de seu pronunciamento, Manoel Badke disse que a homenagem ao professor e ex-vereador Ony Lacerda “é o reconhecimento a quem muito fez e ainda fará por Santa Maria”.

O Vereador Emérito de 2010 iniciou seu agradecimento dizendo ter, ainda, “a mesma disposição e o mesmo desejo de acertar nas questões ligadas ao setor produtivo, por acreditar que o exercício da democracia é um fantástico aprendizado, na convivência humana e nas relações institucionais”. Ao encerrar agradeceu “a todos que confiaram em nossos propósitos, apoiaram nossas ações e nos estenderam a mão. Buscamos, tão somente, realizar o melhor e, portanto, desculpem nossas imperfeições, pois o desejo de fazer o melhor, muitas vezes, impede de percebermos as falhas”.

Antes de encerrar a solenidade, o presidente Paulo Airton Denardin passou a palavra ao prefeito Cezar Schirmer, que se dirigiu pessoalmente a cada um dos homenageados, destacando a dimensão e a importância do trabalho de cada um. De sua parte o presidente da Denardin falou o quanto se sentia honrado por estar presidindo tal sessão. Destacou a felicidade com que cada um dos oradores da Casa referiu-se aos homenageados e agradeceu a presença ao ato, como integrantes da Mesa, do prefeito Cezar Schirmer, do professor Felipe Müller, reitor da UFSM, e do representante da OAB-SM, Péricles Costa.

Texto: Beto São Pedro